Por Rafaela Vidigal em 18/ago/2016 10:00:00
Já que estamos falamos bastante de vinho, que tal abordar um tema bem específico, sobre o vinho mais peculiar que existe? Trata-se do vinho Kosher, um vinho produzido exclusivamente por judeus e apenas com uvas existentes na região judaica. Tem mais particularidades: uma vez a uva vertida em vinho, nenhuma máquina pode entrar em contato com o líquido e também ninguém que não seja judeu. Inusitado, não é mesmo?
Bom, é comum a todos os povos, inclusive aos brasileiros, ter diferenciais que podem aparecer na cultura, na música, na culinária, nos hábitos e em diversos outros costumes. Basta pegar um exemplo bem conhecido do senso comum, a caipirinha. Ou então nossas frutas, como o açaí, a graviola, o cajá, o umbu, etc. Tudo isso é típico do Brasil. E o vinho Kosher segue mais ou menos essa lógica.
O que é o vinho Kosher?
Na verdade o vinho Kosher é só uma parte do sistema Kosher, (que também pode ser chamado de Kasher ou Casher) e que significa em português algo confiável, bom, que se pode acreditar. O sistema Kosher é definido pelo Tora, a bíblia judaica, e estabelece toda a íntima ligação entre a alimentação e a religião judaica, que é muito instigante de conhecer.
Somente os alimentos classificados como Kosher é que são apropriados para o consumo do povo judeu. Portanto, o Tora também funciona como uma espécie de reguladora da dieta dos judeus, um grande nutricionista que controla o elevado padrão de qualidade da comida judaica.
Como isso acontece exatamente? Da seguinte forma: os alimentos produzidos pela indústria, antes de chegarem a um consumidor final, são inspecionados pelas autoridades religiosas judaicas, isto é, os rabinos. Eles é que vão outorgar o “selo de qualidade” para aquele determinado produto alimentício. Com o vinho, é a mesma coisa!
Modo de preparo
Temos de levar em consideração que o vinho possui um significado especial para os judeus, por conta da folha da videira, que é um símbolo hebraico. Portanto, para um vinho ser considerado Kosher ele precisa ser produzido com base em critérios extremamente rígidos.
E, ao contrário do que algumas pessoas acreditam, os vinhos Kosher não são produzidos com uvas específicas ou diferentes, tampouco são produzidos com práticas ou rituais estranhos. O processo de fabricação dos vinhos Kosher acontecem de forma semelhante aos demais vinhos. Entretanto, os critérios são realmente bem rígidos.
As regras são as seguintes: primeiro vem o “orlah”, que é uma restrição quanto ao uso dos frutos nos primeiros três anos em que eles são plantados. Somente no ano seguinte, no quarto, é que esses frutos poderão ser colhidos e as uvas prensadas. Portanto, toda videira que produz o vinho Kosher tem pelo menos quatro anos.
Outra lei que necessita ser respeitada é a “shmita”, que é uma espécie da sabbath do vinhedo, um descanso que ele precisa ter a cada sete anos de trabalho contínuo. Até um vinhedo precisa do ano sabático! Nesse período, nada deve ser cultivado nele, é descanso absoluto.
Durante toda a duração do processo de produção, desde a prensa da uva até o engarrafamento, há outra lei severa: o vinho só pode ser manuseado e controlado por judeus ortodoxos. Se alguma pessoa não religiosa tocar algum lugar que tenha o vinho, ele passa a não mais servir, ficando impróprio para o consumo.
Seguindo a lógica, todo o maquinário atuante na produção também tem a obrigação de ser Kosher. Bem como todos os ingredientes necessários, como o ácido tartárico, os levedos e sulfitos. Tudo igualmente Kosher.
Quem fiscaliza todo o cumprimento dessas leis nas vinícolas são os judeus mais ortodoxos, seguidores à risca do Tora, chamados de "haredim".
Mesmo com toda essa rigidez, acredita-se que o vinho Kosher alegra a alma das pessoas e por isso ele é consumido nas principais celebrações judaicas, entre elas a Pessach, (Páscoa).
Os principais produtores mundiais de vinho, países como França, Itália, Espanha, Estados Unidos e Austrália, também fazem o vinho Kosher, mas numa quantidade pequena, destinada ao consumo local e à exportação. Um dos destaques é um vinho de origem espanhola, chamado Flor de Primavera.
Você já conhecia o vinho e a produção Kosher? Já teve a oportunidade de degusta-lo? Compartilhe suas impressões e experiências conosco!
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