Já que estamos falamos bastante de vinho, que tal abordar um tema bem específico, sobre o vinho mais peculiar que existe? Trata-se do vinho Kosher, um vinho produzido exclusivamente por judeus e apenas com uvas existentes na região judaica. Tem mais particularidades: uma vez a uva vertida em vinho, nenhuma máquina pode entrar em contato com o líquido e também ninguém que não seja judeu. Inusitado, não é mesmo?
Bom, é comum a todos os povos, inclusive aos brasileiros, ter diferenciais que podem aparecer na cultura, na música, na culinária, nos hábitos e em diversos outros costumes. Basta pegar um exemplo bem conhecido do senso comum, a caipirinha. Ou então nossas frutas, como o açaí, a graviola, o cajá, o umbu, etc. Tudo isso é típico do Brasil. E o vinho Kosher segue mais ou menos essa lógica.
Na verdade o vinho Kosher é só uma parte do sistema Kosher, (que também pode ser chamado de Kasher ou Casher) e que significa em português algo confiável, bom, que se pode acreditar. O sistema Kosher é definido pelo Tora, a bíblia judaica, e estabelece toda a íntima ligação entre a alimentação e a religião judaica, que é muito instigante de conhecer.
Somente os alimentos classificados como Kosher é que são apropriados para o consumo do povo judeu. Portanto, o Tora também funciona como uma espécie de reguladora da dieta dos judeus, um grande nutricionista que controla o elevado padrão de qualidade da comida judaica.
Como isso acontece exatamente? Da seguinte forma: os alimentos produzidos pela indústria, antes de chegarem a um consumidor final, são inspecionados pelas autoridades religiosas judaicas, isto é, os rabinos. Eles é que vão outorgar o “selo de qualidade” para aquele determinado produto alimentício. Com o vinho, é a mesma coisa!
E, ao contrário do que algumas pessoas acreditam, os vinhos Kosher não são produzidos com uvas específicas ou diferentes, tampouco são produzidos com práticas ou rituais estranhos. O processo de fabricação dos vinhos Kosher acontecem de forma semelhante aos demais vinhos. Entretanto, os critérios são realmente bem rígidos.
As regras são as seguintes: primeiro vem o “orlah”, que é uma restrição quanto ao uso dos frutos nos primeiros três anos em que eles são plantados. Somente no ano seguinte, no quarto, é que esses frutos poderão ser colhidos e as uvas prensadas. Portanto, toda videira que produz o vinho Kosher tem pelo menos quatro anos.
Outra lei que necessita ser respeitada é a “shmita”, que é uma espécie da sabbath do vinhedo, um descanso que ele precisa ter a cada sete anos de trabalho contínuo. Até um vinhedo precisa do ano sabático! Nesse período, nada deve ser cultivado nele, é descanso absoluto.
Durante toda a duração do processo de produção, desde a prensa da uva até o engarrafamento, há outra lei severa: o vinho só pode ser manuseado e controlado por judeus ortodoxos. Se alguma pessoa não religiosa tocar algum lugar que tenha o vinho, ele passa a não mais servir, ficando impróprio para o consumo.
Seguindo a lógica, todo o maquinário atuante na produção também tem a obrigação de ser Kosher. Bem como todos os ingredientes necessários, como o ácido tartárico, os levedos e sulfitos. Tudo igualmente Kosher.
Quem fiscaliza todo o cumprimento dessas leis nas vinícolas são os judeus mais ortodoxos, seguidores à risca do Tora, chamados de "haredim".
Mesmo com toda essa rigidez, acredita-se que o vinho Kosher alegra a alma das pessoas e por isso ele é consumido nas principais celebrações judaicas, entre elas a Pessach, (Páscoa).
Os principais produtores mundiais de vinho, países como França, Itália, Espanha, Estados Unidos e Austrália, também fazem o vinho Kosher, mas numa quantidade pequena, destinada ao consumo local e à exportação. Um dos destaques é um vinho de origem espanhola, chamado Flor de Primavera.
Você já conhecia o vinho e a produção Kosher? Já teve a oportunidade de degusta-lo? Compartilhe suas impressões e experiências conosco!