A complexidade da culinária oriental gera um certo receio no momento de escolher a bebida de acompanhamento. Por isso, muitas pessoas acabam optando pelo tradicional saquê (fermentado de arroz) ou pela cerveja. E há até quem não arrisca passar muito longe do suco e do refrigerante. Mas é perfeitamente possível harmonizar comida japonesa com vinho. E isso pode render experiências surpreendentes.
Verdade seja dita: a diversidade de frutos do mar, molhos e temperos acaba se tornando um desafio à harmonização. Os sabores fortes e condimentados do shoyu, wasabi (raiz forte) e gengibre – ingredientes clássicos na culinária oriental –exigem cautela. Mas a presença desses elementos não faz a gastronomia japonesa fugir à regra de que a bebida nunca deve se sobrepor ao sabor do prato, mas ressaltar as notas gustativas dele.
É importante ter em mente que pratos elaborados com shoyu, por exemplo, pedem um vinho com acidez mais elevada para quebrar o alto teor de sal presente no molho. O wasabi, que eleva a sensação de álcool na bebida, equilibra-se com vinhos mais adocicados e de baixa graduação alcoólica. Já as preparações marcadas pelo sabor ácido e picante do gengibre devem passar bem longe dos vinhos tintos, principalmente os encorpados, com muito tanino. Nesse caso específico, a harmonização perfeita é alcançada com a casta Gewürztraminer, por ser quase tão aromática quanto a especiaria.
Os espumantes são praticamente um curinga quando se trata de harmonização com a comida nipônica. Eles são perfeitos como acompanhantes de comidas mais tradicionais, como sushis e sashimis,mas também harmonizam muito bom com preparações mais elaboradas. A acidez do espumante ressalta o sabor dos peixes e contrabalança o adocicado do arroz.
Dê preferência a espumantes com boa estrutura, brancos ou rosés, principalmente secos (Brut, Extra Brut ou Brut Nature). Evite as versões doces como o Moscatel. Use e abuse da elegância com um Champagne ou os italianos Prosecco e Franciacorta. É uma experiência sublime!
Pratos cremosos, frutos do mar com gosto mais acentuado (vieira, lula, camarão e lagosta), peixes gordurosos e petiscos fritos (guiozas, tempuras e rolinhos primavera) combinam muito bem com as castas Sauvignon Blanc, Pinot Grigio e Muscadet. Os franceses Chablis e os vinhos Verdes portugueses também são excelentes opções.
Preparações marcadas por elementos picantes ou adocicados são equilibradas com vinhos aromáticos das uvas Riesling, Chardonnay e Torrontés.
Já os vinhos rosés, de corpo médio, acompanham de forma muito mais harmônica sashimis e demais peças de peixes de carne mais escura, como a atum.
Quem não é muito fã de vinho branco ou quer se aventurar entre tintos, sushis e sashimis pode experimentar rótulos de Pinot Noir e Gamay, de corpo leve e acidez pronunciada, sem passagem por barris de madeira, mais frescos e frutados.
Aliás, nada melhor que associar um Pinot Noir com os aromas terrosos do shimeji e do shitake.
Por outro lado, vinhos tintos mais marcantes e com uma característica mais mineral, como um Malbec, harmonizam especialmente com os pratos quentes da culinária japonesa, como lamens com carne de porco e carnes grelhadas com legumes cozidos.
Muito complicado? Na prática, é difícil degustar tantos vinhos durante um jantar completo. A dica é experimentar e descobrir harmonias e sabores aos poucos. Mas, se você não quiser errar, aposte em um espumante brut ou um Champagne do começo ao fim.
Kampai! (Um brinde!)
O que você costuma beber quando vai a um restaurante japonês? Você tem alguma dica de como harmonizar comida japonesa com vinho? Compartilhe conosco suas aventuras por este fascinante mundo de harmonização de vinhos.