Por Rafaela Vidigal em 4/ago/2016 14:18:29
Calma, não se assuste, não estamos falando de vinho com gelo! Os vinhos de gelo são vinhos de sobremesa com sabor diferenciado, resultado do congelamento de uvas ainda no videira, um processo peculiar de produção que oferece maior concentração de aroma. Estamos falando de uma bebida aclamada como um dos melhores tipos de vinho em todo o mundo, sendo considerado um presente fora do comum das temperaturas mais baixas do inverno.
Estudiosos do vinho acreditam que o vinho do gelo teve origem na Europa, mais especificamente na região da Alemanha. E, assim como muitos outros vinhos especiais, foi produzido casualmente por volta de 1794, após uma colheita com uvas que ficaram parcialmente congeladas, por causa de uma geada inesperada e fora de época.
Também conhecido como icewine, vin de glacê ou eiswien, os vinhos de gelo são vinhos de sobremesa com alto teor de açúcar e harmonizam perfeitamente com sobremesas como pudim e crème brûlée ou podem ser consumidos como aperitivos.
Produção dos vinhos de gelo
Apesar de originalmente desenvolvido na Europa, foi no Canadá que os produtores encontraram as perfeitas condições climáticas para que o vinho de gelo fosse feito com maestria.
Isso porque não é qualquer condição que permite o congelamento adequado das uvas para a produção do vinho de gelo. Quando a temperatura não é suficiente para o congelamento em um tempo hábil, as uvas podem apodrecer e a colheita acabará perdida. Da mesma forma, se as temperaturas forem muito severas, não será possível extrair nenhum suco das uvas.
As uvas que já estão maturas no começo do outono são deixadas intactas nas plantações até a chegada das temperaturas mais baixas, para que ela se desidrate naturalmente e concentre mais sabor, aroma, ácidos e, principalmente, mais açúcares.
O processo tradicional de produção dos vinhos de gelo provém da colheita das uvas congeladas de forma natural, depois que elas permanecem alguns dias submetidas a uma temperatura mínima de -8°C, podendo chegar até a -16°C. A colheita é feita manualmente no período da noite para garantir que as uvas cheguem à vinícola ainda congeladas, em uma temperatura bem próxima a de quando foram colhidas.
Assim que as uvas chegam à vinícola, elas são submetidas ao processo de prensagem no qual todos os cristais de gelo ficam na prensa enquanto os outros sólidos e os açucares, que não congelaram, formam um mosto concentrado. O resultado é uma quantidade muito menor de vinho, sendo cerca de 10% a 15% inferior à produção de um vinho mais comum.
Como você pode imaginar, todo esse processo singular torna o vinho de gelo bem mais caro, mas em compensação, o gosto final é mais doce e com elevada acidez, resultando em um vinho de sobremesa de altíssimo nível e bem diferente dos demais.
Atualmente já existe uma tecnologia capaz de produzir o vinho de gelo artificialmente, já que seu processo de produção é muito limitado por depender de determinadas condições climáticas para que sejam produzidos. O sabor não chega a ser tão espetacular quanto os produzidos tradicionalmente.
Vinho espumante de gelo
Ainda mais raros, existem versões do vinho espumante de gelo. O primeiro foi fabricado acidentalmente em 1988, na adega da casa do canadense, Konrad Ejbich. Somente no ano de 1996, o produtor decidiu compartilhar o conceito, desafiando as vinícolas canadenses a fazer o vinho espumante de gelo em uma base comercial. Dois anos depois a Vinhos Inniskillin produziu o primeiro gelo vinho espumante aprovado pelo Ontário Vintners Quality Alliance (VQA), sistema regulatório do governo canadense.
Vinho de gelo brasileiro
Por mais curioso e inesperado que possa parecer, o Brasil também produz vinhos de gelo, claro que com safras ainda mais escassas que o Canadá e a Europa.
A primeira vinícola brasileira a elaborar o vinho de gelo foi a Vinícola Pericó em São Joaquim, Santa Catarina. No ano de 2009, a região registrou temperaturas abaixo do 0 °C, com picos de -7,5 ºC, permitindo que a condição das uvas estivesse adequada para a colheita e produção dos vinhos de gelo.
O primeiro lote de Icewine brasileiro foi lançado em 2010 (safra 2009) e obteve um resultado excelente na degustação realizada na Universidade de Turim, na Itália: 90 pontos. A boa classificação se deu pela qualidade do vinho e do intenso e complexo aroma, com o toque adocicado bem balanceado com a acidez.
Outra curiosidade da produção em terras brasileiras é que, enquanto pelo mundo a maior parte da produção do vinho de gelo é feito com variedades brancas, na Vinícola Pericó a uva escolhida foi a Cabernet Sauvignon. A decisão foi tomada porque essa era a variedade da uva que podia ter a colheita mais tardia, sendo a única capaz de sustentar o amadurecimento lento até a chegada das temperaturas negativas.
Deu água na boca? Então, se tiver a oportunidade, não deixe de degustar o vinho de gelo e comprovar a qualidade desse produto peculiar e raro de ser produzido. Não se esqueça de assinar o nosso blog para ler nossos artigos em primeira mão!
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